As Fofocas da Maria Josefa

Numa última tentativa de recolher depoimentos que pudessem ser importantes para a resolução do caso, Sílvia e Carlos deslocam-se de novo à empresa. Aí, encontram a pessoa que é tida como a fofoqueira lá do sítio, a senhora Maria Josefa Sistina, funcionária de limpeza. Segue-se o testemunho dela, de forma resumida:

Sobre Catarina:
“Essa mulher não tem qualquer decência, é uma prostituta que se vende a qualquer um, desde que ele tenha dinheiro! Acham que não a vi já a atirar-se a outros? Ah, pois é… O Dr. Lemos que se cuide – ou melhor, que se cuidasse, porque agora já está morto, não é? Uma oferecida, é o que é! Acenam-lhe com euros e lá vai ela lamber-lhes as botas… Acham que eu não sei a galdéria que ela é, acham?! É uma trapaceira, uma intrujona! Adivinhem que ela até se ofereceu à Dona Margarida para lhe tomar conta da criança! A senhora contou-me – coitadinha, a miúda ainda lhe matava o bebé… É uma falsa, vende-se por muito barato, acreditem-me – ela própria é barata, quem se dá assim a um homem sem mais nada, só por dinheiro, não tem valor… O Dr. Santana bem revirava os olhos ou fitava-a com ódio sempre que a via a sair do escritório do Sr. Presidente – e ela deitava-lhe um olhar “ora toma lá!”. A Dra. Luísa também não gostava nada dela. A sério, lembro-me como se fosse ontem daquele olhar altivo e superior que ela mandava ao Sr. Vasco… Veja lá que, bem no início, chegou a atirar-se a ele! Mas ele afastou-a logo, é claro… E ela nunca mais tentou, verdade seja dita – ainda perdia os eurinhos do Dr. Lemos!”

Sobre Vasco:
“Um homem bom, mas exageradamente perfeccionista. É ele que mantém isto tudo aqui na ordem, o que pensam? Nada pode estar um milímetro fora do sítio – nem um picómetro! Ele é que encobria todos os escândalos do Dr. Lemos, incluindo o caso com a vigarista da rapariga, a Catarina – mas dela já eu falei, não vale a pena insistir. Ui, se vissem o ódio que o Dr. Vasco lhe tinha… E aquela colecção de pisa-papéis? Uma risota… Era cómico, até! Quer d’zer, quem é que tem uma colecção daquelas coisas feias e inúteis? Ainda se fossem capas da revista ROSTOS… Hão-de ver a colecção que eu tenho lá em casa – isso é que são verdadeiras pérolas! Ainda me lembro que só vi o Sr. Santana sorrir duas vezes – uma, quando chegou ao escritório e viu tudo imaculado; outra, quando foi almoçar com a Dra. Luísa Gomes. Olhem que esses dois, também… São história para fazer correr muita tinta!”

Sobre Luísa:
“Uma senhora rígida e autoritária mas que faz sempre as coisas como deve de ser. Aquela relação com o Dr. Vasco… não sei se ele sente algo por ela, mas que a Dra. Luísa está babada por ele… ai isso, está. Coitadinha, são coisas que acontecem. Pois, ela foi vítima daquele caso de assédio – todos se esforçaram por esconder tudo bem escondidinho, mas nada escapa aqui ao olho perspicaz da Maria Josefa, assim chamada em honra da avó Maria Josefa Teresa, que Deus a tenha em muita estima e a Seu lado no Céu! São coisas que se vêem, ‘tá a ver? Mas é uma pessoa muito boa, a pobrezinha… Deixe lá que ela não fugia à linha de pensamento de toda a empresa sobre a menina Catarina – também a achava uma oportunista suja sem princípios. Mas a Dra. Luísa, ao contrário do Dr. Vasco, também detestava o Dr. Lemos – olhe, devia ser o único ponto de divergência entre os dois, já viu que fofinhos que ficavam juntos? Isto aqui é só boa gente, meus senhores (ou melhor, quase tudo). É uma senhora muito autoritária e um pouco fria, mas muito boazinha…”

Sobre Rui:
“Ai, esse aí, coitadinho… Deus me perdoe por dizer isto de um morto, mas o Dr. Lemos bem as mereceu pela forma como tratou o rapaz… Olhe que a mulher dele foi assediada – tal como outras, de resto – e não desistiu, mas ao fim acabaram por não ter dinheiro para levar o homem a tribunal, pobrezinhos… Depois, ela foi despedida e ele despromovido! Mas é boa pessoa, pode acreditar em mim. Sempre muito certinho, o primeiro a entrar e o último a sair, “não vá o Dr. Lemos encontrar motivos para me despedir”, dizia ele. Um amorzinho… Trabalhava como ninguém, muito humilde e sempre dedicado à família, por eles, fazia tudo. Ah, mas ele também não gostava nada do Presidente… Veja-me só que os dois tiveram uma discussão enorme no dia do crime – o Sr. Rui era tão correcto, ‘tadinho, um defensor da justiça…”